
ISO 14001 e 45001: falhas na documentação podem comprometer certificações e gerar perdas milionárias Fonte: SEGS, 03/12/2025
Especialista alerta que não basta cumprir as normas, é preciso comprovar, com registros, cada evidência de conformidade
As certificações ISO 14001 e ISO 45001 se consolidaram como ferramentas estratégicas para a competitividade e a credibilidade empresarial no Brasil. Elas funcionam como um selo de compromisso com a sustentabilidade e a segurança ocupacional — dois pilares que hoje têm peso direto nas decisões de investidores e na permanência de empresas em cadeias produtivas globais.
A ISO 45001, que passou por atualização em 2024, já contabiliza 142.073 certificados válidos em 260.989 instalações no mundo, segundo o relatório ISO Survey 2023. O crescimento das certificações reflete uma mudança de mentalidade no ambiente corporativo: a conformidade deixou de ser diferencial e passou a ser pré-requisito de permanência no mercado.
Segundo o especialista em compliance legal e CEO do AmbLegis, Gleison Loureiro, “essas normas não são apenas selos técnicos. Elas representam uma estrutura de governança que protege o negócio de riscos jurídicos, ambientais e reputacionais, além de fortalecer o posicionamento da marca perante investidores e órgãos fiscalizadores”.
Entre os requisitos mais críticos — e também os mais negligenciados — estão os registros de aspectos e impactos ambientais significativos, requisitos legais atualizados, procedimentos de emergência testados e evidências de monitoramento e medição. Segundo Loureiro, boa parte das não conformidades identificadas em auditorias está relacionada à gestão documental deficiente.
A ausência de evidências objetivas pode, inclusive, levar à perda da certificação, mesmo quando a empresa cumpre suas obrigações práticas. “As auditorias seguem o princípio da evidência e da amostragem: sem documentação, não há conformidade e a amostra coletada representa o todo. É possível não recomendar para certificação uma empresa que cumpre todos os requisitos técnicos, simplesmente por não conseguir evidenciar que faz”, explica.
Os riscos diretos da falta de documentação incluem perda da certificação, multas regulatórias — que podem chegar a R$ 50 milhões, conforme a LGPD — e exclusão de cadeias de fornecimento. Já os impactos indiretos envolvem queda de reputação, perda de confiança de stakeholders e dificuldades de acesso a investimentos ESG, segmento que movimentou mais de R$ 35 bilhões em 2025, de acordo com a B3.
Outro fator crítico é a falta de governança integrada entre as áreas jurídica, ambiental, de RH e de SST, o que gera falhas de comunicação, duplicidade de controles e lacunas de responsabilidade. “A gestão de requisitos legais não é exclusiva das áreas técnicas — é um processo transversal, que precisa envolver a liderança e estar integrado à estratégia da empresa”, destaca Loureiro.
Ferramentas digitais têm se mostrado essenciais para evitar esses riscos, oferecendo centralização de documentos, rastreabilidade de alterações, alertas automáticos de prazos e dashboards de monitoramento. Segundo Loureiro, empresas que digitalizam seus processos de compliance reduzem em até 60% as falhas em auditorias, conforme dados da ABES e ABDI, 2025.
Para Loureiro, a mensagem aos gestores é direta. “A documentação não é burocracia, é a prova estratégica de conformidade e credibilidade. Empresas que tratam compliance como investimento fortalecem sua reputação, reduzem riscos e ganham vantagem competitiva”.
